Em nossos corações tem habitado a tristeza e revolta, não apenas pelo assassinato de Jonatas Oliveira, uma criança de nove anos, mas também pela tentativa de homicídio que sofreu Geovane da Silva Santos, pai de Jonatas e presidente da Associação de Lavradores do Antigo Engenho Roncadorzinho, em Barreiros, PE. Os sete pistoleiros encapuzados que, no dia 10 de fevereiro, invadiram a casa de Geovane para perpetrar esse ato cruel foram apenas o dedo que apertou o gatilho em mais um episódio da escalada de violência sofrida pelos lavradores e suas organizações naquela região.
Essa tragédia é consequência direta da omissão do Estado em relação à Mata Sul de Pernambuco. Há pelo menos cinco anos se arrastam conflitos ininterruptos decorrentes da ação de empresários que, apoiados por milícias armadas, tentam tomar terras de camponeses que vivem há décadas naquele território. Antes desse último acontecimento trágico já aconteceram várias tentativas de homicídio, torturas, ameaças, invasões de casas, destruição de plantações; muitos desses atos foram apoiados pela polícia militar, ou seja, pelo Estado. E não faltaram avisos e denúncias. Somos obrigados a concluir que diante de sua inércia – e às vezes colaboração – o Estado é co-autor desses crimes.
Unimo-nos a todas as entidades e organizações da Sociedade Civil para exigir dos poderes constituídos uma solução imediata. Que a insegurança e o medo não mais dominem e os lavradores e suas famílias possam viver pacificamente seus direitos à Vida, à Moradia e ao Trabalho.
Que o sangue de inocentes nunca mais banhe essa terra. O Papa Francisco tem insistido que é preciso garantir a todo ser humano o acesso justo e livre à Terra, ao Teto e ao Trabalho. Exigimos os representantes eleitos do Poder Legislativo, do Executivo e dos responsáveis pela Justiça no Estado para que não prevaleça a arbitrariedade do poder do dinheiro e das armas sobre o direito da lei e da justiça. Se os responsáveis não punirem os mandantes deste e de outros crimes na região e não garantirem aos lavradores o justo direito à Terra e à moradia, continuarão a perpetuar as estruturas escravizantes que continuam vigorando na Zona da Mata de Pernambuco.
Esperamos que esta nota seja respondida com atos eficientes de Justiça capazes de devolver a Paz à região do Engenho Roncadorzinho. Deixamos claro que nos colocamos em vigília permanente, até que “ajustiça corra como um rio e o direito brote como ribeiro impetuoso” (Amós
5, 24). Por nosso compromisso de amor, imitando Jesus Cristo, nos colocamos e permaneceremos em meio ao povo que sofre na certeza que um dia a paz e a justiça reinará.
Assinam esta carta:
– Bremen – Comunidade Ecumênica de Espiritualidade Libertadora
– CNLB – Conselho Nacional do Laicato do Brasil
– Movimento Laudato Si’ – Capítulo Nordeste
– Observatório da Evangelização PUC Minas
– Rede Emancipa – Movimento Social de Educação Popular
– MEL – Movimento de Juventudes e Espiritualidade Libertadora
– CONIC – Conselho Mundial de Igrejas Cristãs
– Fórum Ecumênico ACT-Brasil
– KOINONIA – Presença Ecumênica e Serviço
– Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político
– CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço
– Aliança de Batistas do Brasil
– Diaconia
– CAIC – Conselho Amazônico de Igrejas Cristãs
– Diocese Anglicana da Amazônia
– Observatório de Educação Ambiental da UNILA
– Cátedra Laudato Si’ – Universidade Católica de Pernambuco
– Catedral Anglicana do Bom Samaritano, Recife/PE, IEAB – Igreja Episcopal Anglicana do Brasil
– Associação dos Poetas e Prosadores de Tabira
– Comissão Socioambiental da Diocese de São José dos Campos
– Rede Nordeste de Mulheres Negras
– Iser Assessoria – Rio de Janeiro
– FAOR – Fórum da Amazônia Oriental
– Observatório Educador Ambiental Moema Viezzer, Universidade
– Latinoamericana (UNILA)
– Teia dos Povos – Pernambuco
– ÁGORA Habitantes da Terra – Coletivo Brasil
– Centro de Estudos Bíblicos – CEBI Nacional
– FBES – Fórum Brasileiro de Economia Solidária
– Cátedra Dom Helder Câmara de Direitos Humanos – Universidade Católica de Pernambuco
– CORDEL – Coletivo Revolucionário de Libertação
– SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia
– Trapeiros de Emaús
– CENDHEC – Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social
– CEBI Pernambuco
– Fórum Interreligioso Gente de Fé
– MCC – Movimento de Cursilho da Arquidiocese de Olinda e Recife
– MTC – Movimento de Trabalhadores Cristãos – Regional Nordeste 2
– CESEEP – Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular
– Núcleo Ecumênico e Inter-religioso – PUCPR
– URI – Iniciativa das Religiões Unidas
– Grito dos/as Excluídos/as – Recife
– Gabi da Pele Preta, cantora, atriz, arte educadora
– Almério, cantor e compositor
– José Geneci Cristóvão, poeta
– Surama dos Reis Gonçalves, cantora
– Sara da Silva Cristóvão, poetisa
– Mônica Mirtes de Lima Cordeiro, poetisa
– Andreia Lopes Miron, poetisa
– José Rufino da Costa Neto (Dedé Monteiro), poeta
– Maria Ivani Ferreira Bispo, poetisa
– Marcelo Santa Cruz, militante dos direitos humanos e advogado
– Pra Romi Bencke, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, secretária-geral do CONIC
– Pra Mara Parlow, Comunidade Luterana em Belo Horizonte, Diretoria
– CONIC/MG
– Ivo Lesbaupin, sociólogo
– Marquinho Mota, indigenista
– Cylene Araújo, cantora
– Pe. José Oscar Beozzo, teólogo
1 Trackback / Pingback