Ensaios para a Profecia Hoje
Caminho de construção e discernimento
“Muitas vezes e de vários modos, Deus falou a nossos pais e mães pelos profetas e profetisas. Ultimamente, nos falou pelo seu Filho…” (Carta aos Hebreus 1,1). Deus só fala conosco através de profetas. O próprio Jesus ressuscitado se manifesta nas comunidades e nas pessoas. Daí se deduz que a profecia não pode ser um fenômeno especial, extraordinário, e sim algo cotidiano.
Tanto nos ambientes de Igreja mais conservadora, quanto nos nossos meios de Igreja inserida, há a tendência a olhar a profecia como coisa extraordinária e isso minimiza a ação divina e nos impede de ouvir a Palavra de Deus através dos profetas e profetisas do cotidiano.
Nos ambientes conservadores tende-se a considerar como profecia eventos extraordinários e aparições ou fenômenos místicos fora do comum.
Nos ambientes mais abertos, a profecia é vista quase unicamente como postura corajosa e destemida no plano social e político.
A partir do Concílio Vaticano II e das assembleias do Conselho Mundial de Igrejas, tanto na Igreja Católica como em Igrejas evangélicas, quando se pergunta o que faz de alguém um profeta, a resposta é “profeta é a pessoa que anuncia e denuncia”. E se pedimos para dar nomes de profetas e profetisas que reconhecemos como tais, as pessoas falam: Dom Helder Câmara, Pedro Casaldáliga, Irmã Dorothy e outros/outras mártires.
Embora essas pessoas sejam profetas, nessa concepção, limitamos a profecia a um único tipo, e Deus nos dá muitos tipos de profetas e profetisas.
É importante libertar a profecia de uma concepção heroica do profeta e da profetisa.
Tanto na Bíblia, como na vida, profetas e profetisas são pessoas que têm seus problemas, seus medos, suas limitações e de jeito nenhum são sempre heróis ou heroínas. Na Bíblia, por exemplo, o maior dos profetas do primeiro testamento, Elias, era um homem violento, arrogante, antiecumênico e que teve de ser vencido por Deus e teve de se sentir ameaçado de morte para descobrir a palavra de Deus a partir do seu medo e da sua pequenez.
Libertar a profecia da Igreja e do modelo de profecia que nós pensamos na caminhada social das comunidades.
O nosso Deus fala sempre pelas pessoas e comunidades Só que nem sempre percebemos a partir de onde nem como Ele fala. Até hoje a maioria dos católicos não ouve a profecia vinda das religiões afro e indígenas, assim como não ouve a profecia oriunda dos fenômenos do Cristianismo Popular, católico ou evangélico (rezadores, benzedeiras, beatos/as, pentecostais).
Nos Ensaios para a Profecia Hoje desejam contribuir para:
1 – superar uma visão linear de que a profecia mesmo começa por ser de tipo popular e que seus agentes (videntes, adivinhos etc.), pouco a pouco, tomam consciência e se tornam profetas e profetisas de visão histórica, social e política. Temos de descolonizar essa visão.
2 – ajudar as pessoas a se abrirem à pluralidade das diversas profecias e compreender que “O espírito sopra onde quer. Ouves a sua voz mas não sabes nem de onde veio nem para onde vai” (Jo 3, 7).
3 – mesmo respeitando e valorizando as profecias pessoais que existem e sempre existiram, compreender que a profecia bíblica foi e é até hoje principalmente comunitária e não individual.
4 – contribuir para a visão de que a percepção de cada pessoa é também uma visão de mundo, de história, de onde se está inserido, de contexto e, principalmente, uma compreensão comunitária. Sendo assim, a percepção e ação proféticas vêm da comunidade e voltam para a comunidade. Não possuem um cunho individualista.
5. valorizar e acolher as profecias das outras culturas e inspirações como um modo de fazermos justiça e de reconhecermos o pecado do colonialismo que as oprimiu e as desvalorizou.
6. unirmos a profecia que vem da inspiração profética de Jesus (e, portanto, da tradição judaico-cristã) com as tradições dos nossos povos.
METODOLOGIA
Para essa caminhada, pensamos em três módulos – VER – ILUMINAR – AGIR.
E, ao mesmo tempo, cada ENSAIO, viverá essa mesma metodologia – ver – iluminar – agir.
Estamos neste momento em nosso primeiro módulo, que corresponde ao ver, vamos trazer à tona diversas faces da profecia no meio do nosso povo.
PROGRAMAÇÃO
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2 de junho – Ensaio dos Ensaios – ensaios geradores de vida e profecia
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9 de junho – 1º. Ensaio – Profecia, uma vocação – o que é ser profeta? Para que servem os profetas?
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16 de junho – 2º. Ensaio – Os muitos rostos e formas da profecia hoje – em todo serviço e cuidado com a vida, uma profecia
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23 de junho – 3º. Ensaio – Festejando o profeta João Batista e o São João do povo – as festas populares, sua resistência como dimensão profética
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30 de junho – 4º. Ensaio – Profetas e profetisas do nosso povo – O profeta Gentileza e os profetas das ruas, artistas da caminhada
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7 de julho – 5º. Ensaio – A profecia das religiões indígenas – profecias de resistência de do Bem Viver para o hoje da humanidade
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14 de julho – 6º. Ensaio – A profecia das religiões afrodescendentes – profecias de resistência e integração entre a fé, vida e comunidade
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21 de julho – 7º. Ensaio – A profecia das mulheres hoje, nas religiões ancestrais e na Bíblia – na Bíblia a profecia começa com as mulheres, e hoje?
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28 de julho – 8º. Ensaio – Profetas e profetisas dos movimentos populares de nossa história – os movimentos históricos como profecias presentes ontem e hoje
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4 de agosto – 9º. Ensaio – Profetas e profetisas nas juventudes – os mártires jovens e as lideranças de nosso tempo
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11 de agosto – 10º. Ensaio – As profecias de hoje entre a fé e a política – critérios de profecia no exercício da pertença religiosa e na política
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18 de agosto – 11º. Ensaio – Roda de conversa final
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