Recife, Páscoa de 2021
Carta aberta à comunidade
Cristo ressuscitou!
Volta para nós o seu olhar
e faz que sejamos renovados pelo sentido de ressurreição
e alcancemos graça, paz, saúde e felicidade
na comunhão em Ti e na solidariedade ao nosso povo.
Desejamos com essa Carta confirmar nosso caminhar como Comunidade de irmãs e irmãos que sonham juntos com o Amor entre nós, nos guiando no agir, no falar, no viver cada dia, com cada situação presente e histórica.
Ao longo do ano de 2020 e início de 2021, a Comunidade Bremen, COMUNIDADE ECUMÊNICA DE ESPIRITUALIDADE
LIBERTADORA, se sentiu convocada a viver uma profunda comunhão de vida e de missão. Esse chamado nos chegou de muitos cantos e recantos de nosso chão comum: veio do chão do Cristianismo, do chão dos povos originários, das comunidades
quilombolas; das agriculturas familiares; das periferias dos grandes centros urbanos; veio dos empobrecidos sem teto, sem alimento, sem educação, sem saúde pública, sem condições mínimas de vida digna; veio dos saberes artesanais, técnicos, sociais
e espirituais de comunidades não reconhecidas ou invisibilizadas que vivem a comunhão em todas as circunstâncias; veio da espiritualidade libertadora presente em muitas expressões religiosas e não religiosas.
Como Comunidade respondemos: Sim, aqui estamos! E a cada dia, nos colocamos nessa disposição, como caminhantes que aprendem juntos, como discípulas e discípulos que seguem o Mestre que veio fazer morada e viver conosco, assumindo com sua própria vida, a vida de cada pessoa – sem distinção de gênero, etnia, religião -, e a vida da Mãe Terra e todas as criaturas.
Neste longo período de pandemia, que poderíamos chamar de grande quaresma da humanidade, nosso discernimento cotidiano nos convoca a gestos concretos de solidariedade, a reflexões a partir da fé cristã em diálogo com a espiritualidade macro ecumênica libertadora e com as grandes questões éticas que atingem pequenas e grandes comunidades em nosso país.
Esse é o chamado que ouvimos, o clamor que vem do povo. Esse é o chamado que ouvimos de nossa Mãe Terra, clamando por vida em plenitude. É vocação pessoal e comunitária na direção do Reino que já se faz presente aqui através dos gestos concretos de solidariedade, justiça, profecia, compromisso político, paz e saúde. É vocação pessoal e comunitária que se faz presença nas lutas sociais cotidianas, especialmente do povo trabalhador e também que sofre por um não-lugar no campo do trabalho digno.
Como é próprio de cada tempo – e mesmo Jesus não foi compreendido em seu contexto social, histórico e religioso -, temos nos deparado com críticas ao nosso jeito de responder aos muitos chamados por vida digna para todos os seres humanos e toda a natureza. Compreendemos que há muitas visões de mundo, pois estamos diante da pluralidade em todas as suas formas, de pensar, agir e viver a fé. Respeitamos as diferenças e nos colocamos à disposição para diálogos com base na fraternidade e na compreensão mútua. Contudo, muitas vezes, as críticas não vêm acompanhadas dessa atitude de escuta e diálogo mútuos.
Afirmamos nosso compromisso com o diálogo como postura fundamental, que supõe abertura e confiança entre identidades e pertenças diferenciadas.
Afirmamos nosso compromisso ético com a vida digna para todas e todos, pelo respeito à diversidade de crenças, gêneros e etnias.
Afirmamos que somos comunidade a caminho, como aprendizes, guiados pelo Amor e pelo sopro divinos.
Afirmamos nosso compromisso com o mestre Jesus, com o conteúdo histórico político de sua Boa Nova, com a libertação de tudo que compromete a dignidade do ser humano e da mãe Terra, como a semeadura diária que cria condições para que a ressurreição seja plena.
“Então, os dois contaram o que tinha acontecido no caminho
e como o tinham reconhecido quando ele partiu o pão”
(Lucas 24, 35).
Comunidade Bremen
Comunidade Ecumênica de Espiritualidade Libertadora
Seja o primeiro a comentar