Profetas e profetisas dos Movimentos populares de nossa história

Profetas e profetisas dos Movimentos populares de nossa história. Texto de Aprofundamento do 8º Ensaio

Profetas e profetisas dos Movimentos populares de nossa história!

Se é pra ir a luta, eu vou!

Se é pra tá presente, eu tô!

Pois na vida da gente o que vale é o amor (bis)

O que vale é o amor

Zé Vicente

Esse tema nos fala de uma profecia coletiva, que diante da gravidade de situações de ameaça à vida, suscita um movimento popular de resistência, de rebeldia militante e teimosia divina, de esperança indestrutível no novo tempo, de muito amor à vida.

Se observarmos bem, por trás de cada movimento popular de nossa história, há um grito que sacode, uma experiência de profunda indignação ante a injustiça que ameaça e mata muitos irmãos. Não dá para ser indiferente, não dá para se calar, não dá para não entrar na luta…

Como não lembrar da caminhada profética do MST – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, da CPT – Comissão Pastoral da Terra, ambos nascidos dos grilhões da desigualdade social e do sistema capitalista (ou seria “capetalista”) – que favorece a acumulação da propriedade da terra e dos bens nas mãos de tão poucos e que condena a tantos e cada vez mais gente à fome e à miséria – movimentos nascidos da falta de políticas públicas de reforma agrária e de investimento na agricultura familiar, na economia solidária…

O MST e a Comissão Pastoral da Terra são alguns dos muitos movimentos populares que surgiram ao longo da história de lutas coletivas do povo organizado em sindicatos, associações, coletivos, ações e movimentos.

Desde o período da escravidão começou a surgir de forma clandestina no Brasil o movimento da quilombagem, os conhecidos quilombos que reuniam e abrigavam as pessoas que se rebelavam contra a escravidão. Na passagem do século XIX para o século XX surgiu em várias partes do mundo movimentos populares em defesa dos trabalhadores e das classes sociais mais afetadas pela exploração dos patrões.

Na década de 1960 surgiram vários coletivos pelo mundo que procuravam remediar as sequelas deixadas pela Segunda Guerra Mundial. E a partir desta época os movimentos populares diversificaram as suas pautas. A população negra dos Estados Unidos e da África do Sul, por exemplo, revoltou-se contra o injusto sistema de segregação racial que beneficiava a população branca e oprimia a negra.

Zumbi dos Palmares, Martin Luther King, Malcom X, Nelson Mandela são nomes, como outros, que evocam a profecia coletiva presente dos movimentos que eles impulsionaram. No Brasil, o movimento negro por meio de grupos diversos, iniciado desde os tempos coloniais com as lutas pelo fim da escravidão, continua sua missão até nossos dias e com contagiante teimosia “não deixa a profecia cair” com a denúncia dos preconceitos raciais, protestos e atos públicos… chamam a atenção da população e governos para as desigualdades raciais, a violência. Lutas populares que resultam em iniciativas como os programas de cotas raciais e sociais, o SOS racismo, a punição contra agressores.

Não podemos deixar de trazer a memória fecunda, do Movimento de Canudos, um movimento profético da luta do sertanejo pelo direito à terra, moradia e trabalho. E nos faz pensar nas nossas lutas de hoje.

Um movimento popular de resistência e libertação que também marcou a história dos movimentos populares é o movimento feminista. Você já ouviu falar de mulheres como Dandara dos Palmares? Ela foi uma das grandes líderes femininas que lutou junto das mulheres do Quilombo de Palmares, na Serra da Barriga em Alagoas. Dandara é uma entre tantas mulheres que lutaram pela liberdade, como o direito à cidadania e à sexualidade. Você sabia que lá no início do século passado as mulheres tiveram que lutar pelo direito de aprender a ler e escrever, o que só era permitido para os homens? As mulheres também tiveram que lutar muito pelo direito de votar. Mais tarde lutaram pelos direitos reprodutivos e até pelo direito de se vestirem da maneira que acham melhor.

E quem já entendeu o papel da profecia e a importância da força do coletivo, dá as mãos e participa dessa luta que continua hoje… Junto com outros movimentos populares, lutamos pela igualdade no mundo do trabalho, nos debates sobre a discriminação racial, na denúncia dos genocídios dos jovens negros e pobres das periferias, no combate ao assédio, violência e feminicídio. E tem também o movimento LGBTQIA+, que organizou grandes marchas populares ao longo da nossa história na luta contra a homofobia, no ativismo contra o preconceito, as discriminações, a violência e pelos direitos civis LGBTQIA+.

São muitos movimentos populares proféticos em nosso Brasil: movimentos juvenis, movimentos estudantis, movimentos das comunidades eclesiais de base, movimentos das favelas, dos idosos, dos moradores de rua, dos indígenas, e tantos outros… que atuam em várias frentes, como, por exemplo: causas ambientais, raciais, sexuais, trabalhistas, tolerância religiosa, direitos humanos, e por aí vai! Onde há injustiça e desigualdade, o espírito profético sopra, transforma a multidão em povo e surge um movimento popular pela sua libertação.

Os movimentos populares são a profecia da unidade do povo, uma profecia coletiva que dá à multidão a identidade de Povo de Deus na luta pela libertação.

Mas esta profecia exige de cada um sair de si mesmo e se abrir para algo maior, para uma luta que não é só minha ou só sua, mas é de todas e todos.

No Brasil de hoje, em que os movimentos populares são perseguidos, se faz mais urgente nos unirmos em solidariedade nesta profecia comum dos movimentos populares que historicamente lutam pela libertação de todo tipo de injustiça e discriminação.

E para isto é muito importante buscarmos informação confiável, evitarmos espalhar fake news e realizarmos ações concretas de apoio aos movimentos proféticos a favor da vida.

Que tal encontrarmos formas de apoiar um movimento popular em nossa comunidade local? Apesar de estarmos em uma pandemia, e que é necessário todo o cuidado de não se aglomerar, usar máscara e higienizar sempre as mãos, podemos usar as redes sociais ou sites dos movimentos populares para isto.

Edward Neves Guimarães – Comunidade Bremen

Luca Pacheco – Unicap

 

 

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